Durante a rota dos vírus, que iniciámos no princípio do ano, quero pedir a vossa atenção para o Paramyxovírus, nos próximos boletins informativos.
A Varíola e o vírus de Herpes foram falados nos boletins anteriores. Tal como estes vírus, quero começar por dar alguma informação científica e, no próximo boletim falar das consequências práticas.
Paramyxovírus (parte 1)
Entre os pombos, esta doença é causada
pelo paramyxovírus sorotipo 1. Este consiste numa variação da Doença de Newcastle (NCD) que causa a doença entre as galinhas. Esta doença ocorreu maciçamente, pela primeira vez, na Holanda e Bélgica, por volta de 1983. Nos primeiros anos, eram típicos as fezes aquosas e problemas nervosos  graves. Hoje em dia, distinguimos as cepas mais agressivas das menos agressivas, que podem causar problemas nervosos. A prevenção destas cepas virulentas, faz com que os sintomas não sejam reconhecíveis, permitindo a falta de diagnóstico. Apesar da vacinação requerida antes dos voos, é difícil controlar o vírus. Podemos dizer que este vírus está fixado na Europa, tornando-o endémico.
A infecção pelo paramyxovírus ocorre frequentemente no Outono, desde Agosto/Setembro até Novembro inclusive. O período de incubação (o tempo entre a infecção e os primeiros sintomas) depende da força do vírus e poderá variar entre 3 dias a 5 semanas. Nos primeiros anos deste vírus, os primeiros sintomas apareciam dentro de uma semana a 10 dias. Os pombos poderão transportar o vírus durante longos períodos de tempo sem que o columbófilo se aperceba.
Os pombos poderão ser infectados através de contacto com pombos doentes ou através da inalação do vírus. Mas mesmo a ingestão de sementes infectadas ou bebendo em gamelas infectadas, poderá ser a causa da infecção.
Em pombais não vacinados, todos os pombos serão infectados, mas a taxa de mortalidade poderá variar, hoje em dia é de aproximadamente 5%. A morte devido a um surto de paramyxovírus, é comum entre borrachos.
Em caso de sintomas clássicos num surto de paramyxovírus, a morte poderá ocorrer devido à incapacidade de beber ou comer, causada pelos problemas nervosos.
Sintomas clínicos
Tradicionalmente, o paramyxovírus causa lesões no cérebro e nos rins. Nestes últimos, há uma nefrite intersticial, isto quer dizer que os rins são incapazes de reabsorver fluidos, pelo que as fezes se tornam aquosas. Isto não tem nada a ver com problemas intestinais. Graças à perda de fluidos, os pombos irão beber muito e isto resulta na chamada poliúria polidipsia (Pu/Pd). A toma de água aumenta até duas a três vezes o volume habitual.
As fezes aquosas poderão manter-se durante dois meses. As fezes irão lentamente tornar-se mais firmes. Mas para uma parte dos pombos infectados, as fezes aquosas manter-se-ão.
Há claramente uma distinção nas fezes da diarreia e da Pu/Pd. Nesta última, as fezes mantém-se normais, com uma pequena poça de líquido à sua volta.
Os pombos poderão permanecer em bom estado, mas apenas se continuarem a comer. A partir do momento em que haja danos cerebrais, os pombos ficam incapazes de comer como deve ser (cabeças reviradas, vibrações na cabeça, cabeças pendentes) e isto levará a uma deterioração da condição do pombo. No caso de paralisia das patas e asas, devido aos danos cerebrais, a recuperação está fora de questão.
Os sintomas cerebrais leves acabarão por desaparecer. No entanto, em casos de stress, alguns sintomas poderão aparecer, como um pequeno inclinar da cabeça ou vibração. Um sintoma típico de infecção por paramyxovírus é o bicar ao lado da comida.
Hoje em dia, os verdadeiros sinais clássicos de paramyxovírus estão menos presentes. Isto leva a que os columbófilos atribuam as fezes aquosas a uma diarreia e, em vão, a tratem com antibióticos.
O diagnóstico
No caso do aparecimento de sintomas clássicos de uma infecção de paramyxovírus, o diagnóstico é feito baseado nos sintomas e na progressão da doença. Para confirmar este diagnóstico, deverá ser feito um teste sorológico. Obviamente, isto só é sensato quando os pombos não estão vacinados. Se isto já aconteceu, os anticorpos poderão ter origem na vacina em vez da infecção. Se quiserem fazer isto correctamente, após algum tempo, deverão voltar a fazer o teste, para verificar se o título aumentou devido à infecção do vírus.
Desde há vários anos, durante um surto, fazemos um teste rápido na nossa clínica, que mostra se o vírus está presente na cloaca, ou, durante a necropsia do cérebro. Através destes testes rápidos, é possível provar se o vírus está presente em pombos, nos quais não se pensaria verificar a presença do paramyxovírus.
Através da necropsia, é possível provar a infecção do paramyxovírus. Muitas vezes os rins estão inchados. E a histologia de suporte poderá confirmar o diagnóstico.
Diagnóstico diferencial
No caso das cabeças reviradas, poderá pensar-se numa infecção de salmonelas como um diagnóstico alternativo. Também os sintomas cerebrais poderão ser sinal de uma overdose de um composto de imidazol, usado para tratar a tricomoníase.
As fezes aquosas no ninho poderão ser resultado da mudança de leite de safra para comida rápida, durante a reprodução.
Tratamento
Em princípio, deverão isolar-se do casal, os pombos infectados com sintomas moderados. Também deverão evitar-se situações de stress e o tratamento deverá ser direccionado para o apoio dos pombos. Isto quer dizer que não deverão dar demasiada comida, não poderão limitar a toma de água e dar vitaminas e preparados de oligoelementos. O tratamento focado em aumentar a resistência, é benéfico. Até a vacinação de emergência, durante um surto, poderá ser benéfica, uma vez que a protecção dada pela vacina fica disponível após uma semana. Na Bélgica, é obrigatório declarar uma infecção de paramyxovírus. Após reportar isto, há medidas apropriadas a serem tomadas.
No próximo boletim informativo, falarei sobre a abordagem prática.
Boa sorte,
Peter Boskamp